Você tem uma fechadura à sua frente, e um molho de chaves. Em geral, leva-se de um a dois minutos para achar a chave correta e abrir a porta. Um determinado dia, soltam um cachorro bravo lá no fim da rua, logo assim que você chega até a porta. Você ainda não sabe, mas o cachorro leva três minutos para chegar até você. O que sabe é que tem uma porta fechada, um monte de chaves, um cachorro querendo estraçalhar você... e que é preciso achar a chave correta o mais rápido possível.
Quanto tempo você vai levar para achar a chave? O mesmo, mais tempo ou será mais rápido? Costumo perguntar isso nas palestras pelo país afora. Em geral, as pessoas acham que muito mais tempo, já que a pessoa ficará nervosa e estressada com os latidos e o medo do cachorro.
Contudo, a resposta correta é: "depende".
Se você pensar no cachorro, levará mais tempo e algumas mordidas. Se esquecer o cachorro e se concentrar nas chaves, levará provavelmente o mesmo tempo e não será vítima do pit bull, ou dobermann. Eu digo que esqueceria do cachorro e faria o que tem de ser feito. Em situações como essas, você não pode pensar em focar no cachorro, mas na tarefa. Quanto mais focado, melhor irá desempenhá-la.
Algumas pessoas estudam e/ou fazem provas pensando no "cachorro" - o tempo curto, as pressões, as dívidas, a quantidade de matéria, os riscos, a quantidade de candidatos, se serão chamados ou não etc. Isso não adianta, apenas atrapalha. Você precisa pensar nas chaves, na fechadura.
Em uma palestra, um rapaz disse que acharia a chave mais rápido. Inicialmente achei que estivesse errado, mas ele me convenceu. Ele disse que, sabendo que havia um cachorro, não focaria no bicho, mas, em razão de sua presença, iria prestar mais atenção do que de costume, afinal, naquele dia o assunto era mais sério. Não só admirei e concordei com a resposta, mas lembrei de mim mesmo e de muitos amigos: sabendo que a coisa é séria, a gente se distrai menos. Quando "cai a ficha" a gente não se permite perder tempo ou levar a coisa sem um mínimo de seriedade.
Quando eu estudava para concursos, sabia que aquela era, senão a única, certamente a melhor saída para eu achar meu lugar ao sol. Era a porta que eu tinha e a chave era estudar, aprender a matéria, aprender a fazer as provas, me organizar. Quando fazia as provas, não pensava no cachorro, mas focava minhas atenções em fazer a melhor prova que eu pudesse fazer naquele dia. Se desse para passar, ótimo; se não, iria me preparar melhor para a próxima. Concurso se faz não para passar, mas até passar.
Há pessoas que ficam pensando nos cachorros; outras tratam o estudo ou a prova com displicência, como se tudo fosse dar certo automaticamente, ou como se tivessem todo o tempo do mundo. Não é por aí. Nem atenção demais, nem de menos. O importante é um candidato equilibrado.
É preciso estar presente naquilo que se faz: no lazer, lazer; no estudo, estudo. Precisamos de um mínimo de lazer, descanso e atividade física, e de muito estudo, mas estudo de qualidade. Para a atividade física, recomendo o WDPTS, disponível gratuitamente na página www.williamdouglas.com.br, onde também há dicas sobre organização e administração do tempo. Mas tão importante quanto organizar o tempo, é organizar a própria cabeça, as prioridades e a forma como vamos lidar com nossos cachorros e as chaves. Há muitas portas boas para serem abertas, e faremos isso se fizermos a coisa certa pelo tempo certo.
William Douglas
terça-feira, 15 de setembro de 2009
O PORTEIRO DO MEU PRÉDIO - Quando a inteligência burra substitui a ignorância inteligente.
(por *Marcos Méier)
“Seu” Inácio era o porteiro do nosso prédio: 15 andares, 60 apartamentos e 60 famílias. Era muita gente entrando e saindo a toda hora. “Seu” Inácio era um sujeito todo prestativo, carinhoso, atencioso e de uma alegria tão grande que dava inveja. Santa inveja! Quando a gente chegava em casa com as compras de supermercado, lá ia ele correndo ajudar a colocar tudo no elevador. Quando a gente levantava de manhã cedinho logo vinha um “bom dia!” Alto, sonoro, e, novamente feliz.
Quando recebíamos visitas, ele recepcionava a todos cumprimentando, dizendo “sejam bem vindos”, e derramava-se em gentilezas. Mas “Seu” Inácio tinha um problema. Era quase analfabeto. Tecnicamente, era um analfabeto funcional. Sabia apenas ler o nome das pessoas na correspondência para poder colocá-las cada qual em seu escaninho. Não adiantava deixar bilhetes para ele. “Tava sem meus óculos” logo dizia, esquivando-se da leitura. Via as fotos das revistas para dar a impressão a quem passasse que ele estava absorto na leitura.
Alguns moradores começaram a se incomodar: “Não dá para convidar visitas formais, pois com essa recepção, cai o nível”, “ele fala com meus convidados, sem a menor condição de manter um diálogo, ele fala: ‘os problemas das pessoas o Lula tá resolvendo’”; “um prédio com o nosso não pode continuar com uma recepção tão inculta. Merecemos alguém mais capacitado”.
De tanto reclamarem, chiarem, resmungarem, os “cultos e inteligentes” moradores do meu prédio forma em peso em uma reunião do condomínio e exigiram a troca do “Seu” Inácio por alguém mais preparado.
Hoje cheguei muito cansado do trabalho, estressado pelo número de reuniões intermináveis. Ao passar pela recepção, um novo porteiro. Um recepcionista. Fez administração em uma dessas faculdades sobreviventes.
As conversas com eles são cultas.
Pequenas, mas cultas.
Sérias, sisudas, mas cultas.
Ajuda? Não. Essa não é a função dele. Ele é recepcionista.
Fala muito bem.
Ontem eu o vi dizer: “Há vários problemas nesse prédio. Falta manutenção”.
Diagnóstico perfeito e dito de forma perfeita. Triste e carrancudamente perfeito.
“Seu” Inácio, pelamordedeus, dá procê vortá correno?
*Marcos Meier é Mestre em Educação, Psicólogo e Palestrante. Contatos pelo site www.marcosmeier.com.br.
“Seu” Inácio era o porteiro do nosso prédio: 15 andares, 60 apartamentos e 60 famílias. Era muita gente entrando e saindo a toda hora. “Seu” Inácio era um sujeito todo prestativo, carinhoso, atencioso e de uma alegria tão grande que dava inveja. Santa inveja! Quando a gente chegava em casa com as compras de supermercado, lá ia ele correndo ajudar a colocar tudo no elevador. Quando a gente levantava de manhã cedinho logo vinha um “bom dia!” Alto, sonoro, e, novamente feliz.
Quando recebíamos visitas, ele recepcionava a todos cumprimentando, dizendo “sejam bem vindos”, e derramava-se em gentilezas. Mas “Seu” Inácio tinha um problema. Era quase analfabeto. Tecnicamente, era um analfabeto funcional. Sabia apenas ler o nome das pessoas na correspondência para poder colocá-las cada qual em seu escaninho. Não adiantava deixar bilhetes para ele. “Tava sem meus óculos” logo dizia, esquivando-se da leitura. Via as fotos das revistas para dar a impressão a quem passasse que ele estava absorto na leitura.
Alguns moradores começaram a se incomodar: “Não dá para convidar visitas formais, pois com essa recepção, cai o nível”, “ele fala com meus convidados, sem a menor condição de manter um diálogo, ele fala: ‘os problemas das pessoas o Lula tá resolvendo’”; “um prédio com o nosso não pode continuar com uma recepção tão inculta. Merecemos alguém mais capacitado”.
De tanto reclamarem, chiarem, resmungarem, os “cultos e inteligentes” moradores do meu prédio forma em peso em uma reunião do condomínio e exigiram a troca do “Seu” Inácio por alguém mais preparado.
Hoje cheguei muito cansado do trabalho, estressado pelo número de reuniões intermináveis. Ao passar pela recepção, um novo porteiro. Um recepcionista. Fez administração em uma dessas faculdades sobreviventes.
As conversas com eles são cultas.
Pequenas, mas cultas.
Sérias, sisudas, mas cultas.
Ajuda? Não. Essa não é a função dele. Ele é recepcionista.
Fala muito bem.
Ontem eu o vi dizer: “Há vários problemas nesse prédio. Falta manutenção”.
Diagnóstico perfeito e dito de forma perfeita. Triste e carrancudamente perfeito.
“Seu” Inácio, pelamordedeus, dá procê vortá correno?
*Marcos Meier é Mestre em Educação, Psicólogo e Palestrante. Contatos pelo site www.marcosmeier.com.br.
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